quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Uma historia que vem dando certo

Criado há dois anos, o projeto Contadores de Histórias do Centro de Voluntariado de Ribeirão Preto atendeu mais de 5 mil crianças e representa um trabalho importante dentro da comunidade ribeirão-pretana

Contar histórias é a forma mais antiga de se comunicar. Ouvir uma história, contá-la e recontá-la, durante anos, foi a maneira mais eficiente para preservar os valores de uma determinada comunidade. Hoje, a história esta nas escolas em forma de matéria, dentro de casa e, ate mesmo nos hospitais e grupos de apoio, diminuindo o sofrimento de milhares de crianças.
Em 2004, depois do primeiro simpósio sobre voluntariado, filantropia e cidadania, o Centro de Voluntariado de Ribeirão Preto iniciou uma parceria com a Associação Viva e Deixe Viver. O projeto, que existe em São Paulo há 10 anos, forma contadores de histórias para trabalhar com crianças e adolescentes hospitalizados, e tem o objetivo de transformar o período de internação em um momento mais agradável.
Ribeirão Preto foi a primeira cidade do interior do Brasil a implantar o projeto. E, em abril de 2005, começou o treinamento da primeira turma de Contadores de Histórias, em parceria com o Hospital Santa Lydia, onde foi desenvolvido o projeto piloto. Em 2006, com a formação da segunda turma, o projeto foi levado à Santa Casa de Misericórdia e ao GACC (Grupo de Apoio à Criança com Câncer). Em dois anos de projeto, 5340 crianças foram atendidas em 2650 horas doadas. "Esse e um trabalho em que vemos muitos frutos, muitos frutos positivos", diz Maria Gilda Cortucci, coordenadora do Centro de Voluntariado de Ribeirão Preto.
Maria Gilda participou da formação da primeira turma de Contadores de Histórias. O curso dura 4 meses e as palestras são quinzenais. Ela também explica que a triagem dos voluntários acaba sendo feita nesse período. "No curso há a preocupação de mostrar para o voluntário o que ele vai enfrentar e como deve agir. Os próprios voluntários vão se desligando do projeto quando percebem que não era aquilo que eles queriam, já que precisa haver compromisso, constância e a consciência daquilo que se está fazendo".
Ana Augusta participou da formação da última turma de Contadores, em 2007. Ela conta que está atuando desde agosto e está apaixonada pelo prometo. “Não dá para mudar o mundo, mas se todas as pessoas dessem um pouquinho do seu amor, com certeza viveríamos em um lugar bem melhor".
Ana Augusta é uma das Contadoras que atua no Hospital Santa Lydia e a reportagem do JO acompanhou um dia de trabalho com as crianças. Desde o primeiro contato, e fácil perceber o quanto as crianças gostam e precisam dela. Igor, de 6 anos, se auto-intitulou ajudante e aonde Ana vai, ele a segue. Enquanto ela conta a historia do livro, o garoto não perde a oportunidade de contar suas próprias histórias, fazendo todos rir com sua alegria. "Só tenho o que agradecer porque acho esse trabalho muito mais importante para mim do que para as crianças. Elas são lindas e aprendo muito com elas", confessa a voluntária. As crianças também se apaixonaram por ela.
Ana também cativou os pais e mães com seu carinho e atenção com as crianças. Ela brinca, dá colo e faz cafuné. "As crianças já estão internadas, e nós estamos aqui para diminuir o sofrimento delas. A gente não impõe nada e acaba fazendo o que elas querem", conta. O Contador se torna um grande amigo da criança. "Esse é um projeto que tem uma importância muito grande dentro da comunidade e é impossível quantificar a importância dos Contadores para as crianças", confessa Maria Gilda.
Ângela Maria Almeida de Souza é madrasta de João Henrique, de 11 anos. Ela diz que é impossível não notar a mudança no comportamento das crianças quando os Contadores de Histórias chegam. "A gente vê a atenção e a dedicação dos Contadores. E as crianças já ficam esperando, perguntando por eles". Hoje, existem 53 voluntários atuando em Ribeirão Preto. Segundo Maria Gilda, os funcionários dos hospitais e do GACC elogiam esse trabalho e isso e um estímulo muito grande para os Contadores. "Desde o funcionário da limpeza, até os diretores, todos elogiam demais o trabalho e isso é muito gratificante". Em cada local onde o projeto está presente, foi montada uma pequena biblioteca, com livros, materiais para as crianças desenharem e brinquedos pedagógicos. Mas alguns contadores levam sua própria sacola, com livros e brinquedos para as crianças.
Sobre parcerias, a coordenadora conta que dois voluntários que trabalham numa mesma empresa conseguiram verba para montagem de uma sala, dentro da Santa Casa, onde as crianças possam brincar e se sentirem mais a vontade. Ela também explica que parcerias são necessárias para manutenção do projeto, já que os Contadores de Histórias contam com uma pequena verba que é destinada ao Centro de Voluntariado. "Uma grande parceria que nós temos é com a comunidade. Os palestrantes do curso têm atuado com trabalho voluntário durante a formação dos novos Contadores". Graças a parcerias, como a de Ribeirão Preto, entre a Associação Viva e Deixe Viver e ONGs, mais de 70 hospitais espalhados pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná e Pernambuco participam desse projeto.


Serviço
As inscrições para o próximo curso de formação dos Contadores de Histórias devem ser feitas no Centro de Voluntariado de Ribeirão Preto, que fica à rua João Penteado, 676, esquina com a rua Marcondes Salgado. O telefone é o 3635-1739




Matéria publicada no Jornal do Ônibus - jornal laboratório do curso de Jornalismo da Unaerp - edição de Outubro/2007 (a matéria publicada tem cortes. A matéria do blog está na íntegra).