quarta-feira, 25 de julho de 2007

Ainda existe Punk?

Inglaterra. Década de 1960. Selvageria capitalista. Crise econômica. Demissões em massa. Miséria. Foi em meio a esse contexto repleto de insatisfação que nasceu o movimento punk. A partir daí, o movimento chegou aos Estados Unidos durante a década de 1970 e no Brasil, apenas nos anos 80, mais precisamente no fim da ditadura militar.
Mesmo inserido em contextos diferentes, o movimento punk sempre surgia como forma de protesto ao sistema capitalista. Os punks pregavam uma estrutura social livre do governo e de autoridades, em que houvesse responsabilidade mútua e paz entre as pessoas. Tal estrutura recebeu o nome de Anarquismo.
Como resultado do visual carregado, das roupas surradas e da defesa do Anarquismo, os punks eram considerados agressivos pelo restante da sociedade. Mas, com o passar dos anos, esse movimento foi perdendo sua força e seu papel. “Se fôssemos tentar definir um papel, eu diria que ele (o movimento) é uma espécie de contraponto ao ajuste às normas sociais, pois, ao recusar um padrão estabelecido, coloca em evidência a normatização dos outros padrões”, explica Helena Capelini, socióloga e docente da Unaerp.
A jornalista Fernanda Duarte começou a se interessar pelo punk na adolescência e assumiu a postura anarquista. Hoje, no entanto, o punk é apenas moda. “Eu achava a velocidade das músicas e as letras de protesto muito estimulantes, mas até então não havia me inteirado o suficiente a respeito da ideologia”, diz. “Anos depois eu até cheguei a levantar certas bandeiras, querer ‘mudar o mundo’ e aquela coisa toda da idade. Mas, depois de adulta, o que sobrou foi só o gosto pela música e os ‘traços’ do visual”, conta.
Kelsen Renato Bianco é integrante, há 14 anos, de uma banda punk. Hoje ele diz que se sente velho para ser caracterizado como punk. Mas conta que sempre gostou daquilo que fugia aos padrões. “Eu comecei a conhecer bandas punks e depois conheci a ideologia. E eu me identifiquei”. Bianco ainda diz que a maior parte das pessoas não entende o movimento punk e, por isso, o julga de maneira inadequada. “O movimento punk carrega a bandeira do anarquismo. E o anarquismo nada mais é que a ausência de poder. Mas as pessoas confundem liberdade com bagunça.”
Os meios de comunicação passam uma imagem equivocada quando se trata daquilo que foge aos padrões. Segundo Bianco, os filmes mostram os punks roubando e matando, e muitas pessoas foram vítimas dessa alienação. “A pessoa aderia ao visual punk e saía por aí fazendo tudo o que via na televisão”, conta. “A pessoa que luta pela liberdade sabe que a sua liberdade termina quando começa a do próximo”, afirma.
O punk se tornou apenas moda, já que tudo aquilo que pregava se perdeu ao longo dos anos, assim como a força inicial do movimento. O que ficou foram as músicas e o visual. “Isso, de certa forma, descaracterizou o princípio underground e segmentado do movimento, tornando-o parte da indústria de consumo”, conclui Fernanda Duarte.


Obs: A matéria “Ainda existe Punk?” foi premiada com o 2º lugar na categoria “Jornalismo Online” durante a 2ª Mostra de Atividades em Comunicação Social, realizada entre os dias 21 e 27 de novembro de 2006 na Universidade de Ribeirão Preto.

Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/age/reportagens/edicao48/punk.htm

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